O desaquecimento do mercado de trabalho afetou também a criação de postos com carteira
assinada para brasileiros com baixa qualificação. Nos anos de forte crescimento
econômico, esse grupo de profissionais foi abraçado por setores como comércio e
construção, que agora estão enfrentando desaceleração no emprego formal.
Entre janeiro e julho, a variação do desligamento
médio anual da construção civil, do comércio e dos serviços é bastante superior
ao comportamento das admissões, revela um estudo feito pela LCA Consultores. (leia quadro). O
comportamento das admissões em relação aos desligamentos só é maior na
indústria, justamente o setor da que tem apresentado melhores resultados na
comparação com o ano
passado e que demanda profissionais com nível mais alto de
escolaridade.
A desaceleração do emprego na construção civil também é medida pela pesquisa
do Sinduscon-SP em parceria com a FGV. No acumulado do ano, até julho, o nível
de emprego subiu 3,62%, com a contração de 122,1 mil trabalhadores. No mesmo
período de 2012, o acréscimo foi de 6,98%, com a contratação de 221,5 mil
trabalhadores.
“O setor da construção civil tem uma escolaridade
inferior à da indústria e de vários segmentos do setor de serviços. Pareceme natural que, quando um setor
menos escolarizado vai mal, o pessoal mais escolarizado acaba sendo beneficiado
na outra ponta”, afirma Fábio Romão, economista da LCA. “O comércio também acaba
incorporando pessoas com menos escolaridade, mas não na mesma intensidade da
construção”, diz.
O fato de a variação dos desligamentos crescer
acima das admissões não significa um fechamento de vagas com carteira assinada.
Na soma de todos os setores nos primeiros sete meses do ano, as admissões
cresceram 2,7%, e os desligamentos tiveram alta de 5,7%. Tanto é que, no
acumulado do ano até julho, houve criação líquida de empregos formais de 907.214
vagas. “Em volume, as admissões estão acima dos desligamentos nos últimos anos.
Pode haver uma falsa sensação de fechamentos de postos de trabalho, mas o que
houve foi uma abertura líquida menor”, diz Romão.
Na avaliação do economista Eduardo Zylberstajn,
da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o desaquecimento do
mercado de trabalho também pode ser medido pela Pesquisa Mensal de Emprego
(PME), do IBGE. “Estamos num processo de alta do desemprego”, diz. A estimativa
da Fipe para a taxa de desemprego em agosto é de 5,5%, abaixo dos 5,6% de julho,
mas acima dos 5,3% registrados em agosto do ano passado.
Currículos. Zylberstajn tam bém destaca a queda
no índice Catho-Fipe de Vagas por Candi dato (IVC). O indicador tentE mostrar a
oferta e demanda poi trabalho, levando em conta í quantidade de novas
vagas con a quantidade de novos currículos publicados. Em agosto, essa relação
foi de 0,91. Foi o segundo mês consecutivo de queda desse indicador, mesmo
levando em conta os efeitos sazonais: Essa relação foi de 1,02 em junho e de
0,94 em julho de 2013.
A tendência, segundo projeções que aparecem no
relatório do Itaú BBA, é que a taxa de desemprego aumente 1 ponto porcentual
entre 2013 e o ano que vem. É um número muito expressivo. Isso é equivalente a
quase 500 mil brasileiros sem emprego, de acordo com os cálculos da Tendências
Consultoria. “Se essa tendência se mantiver, em algum momento do ano que vem
poderia haver uma reversão, com maior aumento dos desligamentos em relação às
admissões”, afirma Alessandra Ribeiro, economista da Tendências.
Pé no freio
“O setor de construção tem uma escolaridade
inferior à da indústria e a de vários segmentos do setor de serviço. Parece-me
natural que, quando um setor menos escolarizado vai mal, o pessoal mais
escolarizado acaba sendo beneficiado. O comércio também acaba incorporando
pessoas com menos escolaridade, mas não na mesma intensidade da construção.”
Fábio Romão
ECONOMISTA DA LCA
“Estamos num processo de alta do desemprego.”
David Zylberstajn
ECONOMISTA DA FIEP
Fonte: O Estado de S. Paulo
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